Encontrar algo útil no meio da tralha é parte essencial do trabalho de um historiador.

domingo, 22 de agosto de 2010

Bebedor do sangue português

O jornalista comunista francês Jacques Frémontier esteve em Portugal durante o PREC, vindo a expor as suas observações e análises no livro Portugal, Os Pontos nos ii (Moraes, 1976), traduzido do francês por José Saramago. No capítulo sobre a imprensa portuguesa, Frémontier refere-se aos saneamentos de jornalistas ocorridos no Diário de Notícias em Agosto de 1975. É então que se estabelece no papel um curioso diálogo entre autor e tradutor:


“ (…) A 27 de Agosto, uma assembleia plenária do pessoal (do DN) decide uma depuração maciça dos jornalistas: vinte e dois dos trinta signatários de um documento que condenava a orientação política do jornal são demitidos sem indemnização.


(Nota do tradutor: “Não por terem “condenado a orientação política do jornal”, mas por terem sido considerados “responsáveis no empolamento exterior de um caso que (dizia) respeito a todos os trabalhadores (da) empresa”. O leitor interessado fará bem em consultar o “DN” de 19 e 28 de Agosto de 1975, dias em que, se vem a propósito, se tiraram, respectivamente, 112 200 e 100 700 exemplares…”)


Inquieto-me junto de José Saramago, director-adjunto do jornal e comunista (…). Saramago trata-me gentilmente de “idealista”: “Tu não compreendes”, diz-me, “que estamos em plena luta de classes. É uma batalha de vida ou de morte entre eles e nós…”

Seja… Mas então há que ganhar a batalha. Saramago e os seus amigos perderam-na. Aqueles que invocam constantemente o ensinamento de Lenine, fariam bem em lembrar-se do princípio fundamental duma estratégia leninista: apreciar correctamente a relação das forças…


(Nota do tradutor: “Perdeu-se uma batalha, meu caro Jacques, não se perdeu a guerra…”)” (pp. 135-136)

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