Notícias de Loures, 15 de Maio de 1974, p. 10.
“O Futebol e o seu subdesenvolvimento
Domingo a domingo lá vamos assistindo por esses campos de futebol do país a invasões de campo, aos desgostos estúpidos que sofremos quando a equipa da nossa simpatia perde, a zangas entre clubes e a muitos outros aspectos negativos.
Multidões gritantes, gesticulantes enchem os estádios servindo-se do futebol como escape do quotidiano adverso.
De olhos nos rectângulos de jogo, o indivíduo irmanado às massas que o acompanham liberta-se da sua violência contra a sociedade exploradora, regressando a casa mais leve, mas ainda mais frustrado.
A sua participação na vida da sociedade que o condiciona é perfeitamente apolítica.
Sendo o futebol um dos mais seguros refúgios do reflexo patriótico dado pelas instituições capitalistas e sobretudo do nacionalismo fácil, dá-se uma expansão das empresas desportivas e a alienação dos estádios – catedrais-sagradas dos encontros das almas frustradas (espectadores) com as almas glorificadas (as dos atletas vencedores).
O subdesenvolvimento dá-se muito bem com o futebol. Verifica-se que nos países pouco desenvolvidos o futebol floresce muito melhor do que as ciências, as artes e as letras.
Sabido que é do interesse sempre demonstrado pelas elites no poder em manipular as actividades populares por caminhos que afastem as pessoas do conhecimento, da verdadeira cultura.
Efectivamente, o povo não sabe ocupar as suas horas de ócio. Assim, não lê, não vai aos museus nem a recitais, nem discute os problemas que o afectam.
Então joga e vai à bola. E com tal paixão o faz que vem a ser especialista nesse jogo.
Este é o caso do futebol brasileiro ou o seu segredo.
Esta foi segundo as linhas gerais a resposta dada por um jornalista brasileiro à pergunta, como poderia ele explicar a força do seu país no caso do futebol ao nível mundial.
O caso brasileiro não é único, e paralelamente com o Brasil temos os outros países da América do Sul e os países latinos, com excepção da França.
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